(O)culto: Perséfone, rainha do submundo




Já tem um tempinho que eu prometi para vocês falar um pouco sobre o meu culto a Perséfone. Devido a questões da faculdade e alguns estudos de fora, acabei atrasando um pouquinho, porém acabou de calhar em cair exatamente na Primavera, estação muito importante para a Deusa.
Então vamos lá!

💜

    Para começo de conversa, é importante esclarecer que um culto à guia espiritual é um pouco diferente do culto à uma deusa mãe e um deus pai. Suas divindades paternas estão com você desde o momento de seu nascimento. Alguns dizem que até mesmo em vidas passadas. Mesmo que você não conheça suas divindades ainda, saiba que elas estão lá. Já os guias espirituais são divindades que aparecem com propósitos específicos para você. Podem aparecer em qualquer momento da sua vida. Eles vem, te auxiliam no que há para auxiliar, e depois vão se embora. Claro que isso pode demorar muito tempo (ou não). O que quero ressaltar é que a divindade guia é mais objetiva, ou seja, se ela apareceu na sua vida, é por que você tem algo para mudar. Por isso que quando eu costume chamar de "trabalho" ao invés de culto, pois de fato é algo que exige atividade, não passividade. 
    Diferente da estrutura que fiz para o post do culto às minhas divindades, sinto que é importante eu contar um pouco a história dessa deusa, que como muitos mitos essenciais da história da humanidade, tem inúmeras versões e algumas até bem polêmicas. Retirei algumas informações de Hesíodo, Homero e de alguns blogs que li no decorrer da minha jornada mágica, um destes sendo da Rosea Bellator (como sempre me auxiliando!). 

O Rapto de Perséfone

   
    "
Perséfone, na mitologia grega, é a deusa das ervasfloresfrutos e perfumes. É filha de Zeus com sua irmã Deméter, a deusa da agricultura e das estações do ano. [...] Quando os sinais de sua grande beleza e feminilidade começaram a brilhar, em sua adolescência, chamou a atenção do deus Hades que a pediu em casamento. Zeus advertiu seu irmão que Démeter não quer que nenhum deus chegue perto da sua filha. Hades, impaciente, emergiu da terra e raptou-a enquanto ela colhia flores com as ninfas. Hades levou-a para seus domínios (o mundo subterrâneo ou mundo inferior), desposando-a e fazendo dela sua rainha. 
[...] Sua mãe, ficando inconsolável, acabou por se descuidar de suas tarefas: as terras tornaram-se estéreis e houve escassez de alimentos, e Démeter recusou-se a ingerir qualquer alimento e começou a definhar. Ninguém queria lhe contar o que havia acontecido com sua filha, mas Deméter depois de muito procurar finalmente descobriu através de Hécate e Hélio que a jovem deusa havia sido levada para o mundo dos mortos, e junto com Hermes, foi buscá-la no reino de Hades (ou segundo outras fontes, Zeus ordenou que Hades devolvesse a sua filha). Como entretanto Perséfone tinha comido algo (seis sementes de romã) concluiu-se que não tinha rejeitado inteiramente Hades. Assim, estabeleceu-se um acordo, ela passaria metade do ano junto a seus pais, quando seria Cora (para os romanos), a eterna adolescente, e o restante com Hades, quando se tornaria a sombria Perséfone (Prosérpina, para os romanos). Este mito justifica o ciclo anual das colheitas." 

Perséfone e Hades no submundo.

    Há quem diga, ainda que, na realidade, Hades obrigou Perséfone a comer o fruto do romã. Como se já não fosse o bastante, existem algumas versões do mito que dizem que a deusa fora estuprada pelo tio, o vermelho do fruto representando o sangue da relação não consensual. Porém, se formos tratar de simbologia, eu gosto da versão em que o romã representa o útero em fase menstrual de Perséfone, o que faria muito sentido se pararmos para interpretar: enquanto a deusa está na Terra, está na fase do folículo menstrual (Primavera) e quando desce para o submundo, se fecha dentro de si, introvertida... ela sangra (Inverno). Acho linda essa interpretação, pois passa uma imagem muito bonita e simbólica à menstruação, que por incrível que pareça ainda é considerado um tabu. 

A Sombra, de Carl Jung

    Agora, seguindo novamente ao trabalho com Perséfone. A deusa apareceu para mim quase no mesmo momento que eu comecei a estudar os oráculos. Um pouco antes disso eu estava me aprofundo mais nas mitologias e, assim como Apolo e Afrodite, o mito dela mexeu comigo. Talvez até mais do que com os outros deuses, pois há uma teatralidade muito forte nesse mito. Visualizo com muita facilidade a doce Koré colhendo as flores no campo e sendo surpreendida por Hades a puxando pelo pulso, descendo até o Submundo. Entendo que esse é um mito que impacta fortemente as pessoas por se constituir de um arquétipo muito profundo: o da descida até as trevas. O de descer até o fundo do poço, o mais fundo da escuridão que há dentro de você. Reconhecer suas fraquezas, seus demônios, e não jogá-los fora, mas internalizá-os como parte do trabalho de individuação. Parece confuso? Um pouco! Mas calma lá. Estou falando do que Carl Jung denominou de sombra, que é, em termos mais genéricos, o lado mais sombrio de você. A parte mais primitiva, que constitui de desejos, segredos obscuros, mágoas, traumas e tudo aquilo que é "não aprovado" moralmente. O próprio Jung explicou que existem diferentes tipos de sombras e que uma maneira de alcançar o bem-estar, a cura e a liberdade pessoal é torná-las conscientes e enfrentando todas elas. Ou seja, não adianta se livrar disso, pois só trará um esforço mental muito prejudicial. A sombra, em contrapartida, traz criatividade. Sabe aquela história ou aquele desenho que você descarregou tudo o que pensava? E saiu algo excepcionalmente incrível? Pois bem, é a sombra agindo...

Sabás e rituais com Perséfone

 
    Ainda no caminho de Sombra, acho interessante falar um pouco sobre a maneira que experienciei a chegada de Perséfone na minha jornada divina. Não foi fácil, te digo. Afinal de contas, trabalho com sombra é sempre muito intenso. A deusa te mostra verdades que estavam ali o tempo todo, que estavam te prejudicando, te cegando. Não fiz nenhum feitiço específico para comprovar que era essa deusa de fato, pois meu interesse por ela era crescente, descomunal. Li um pouco sobre ela e achei que já tinha o que era preciso para fazer uma oferenda, conversar um pouco com ela, etc. Como vocês já sabem, deu ruim! (vish!). Lembra da treta entre Afrodite e ela? Pois é, ela ficou magoada também! Então lá vai eu me reconciliar com as duas... Depois disso, o Mabon chegou e senti que deveria dedicar este sabá a ela. Para quem não sabe, o sabá de Mabon é o equinócio de outono. O
s temas desse sabá são o equilíbrio e ação de graças. É tempo de dar graças pelos frutos colhidos, e a Deusa é a Senhora de Abundância cuja colheita nos sustentará pelos meses escuros do Inverno, assim como refletir sobre nós mesmos, sobre o equilíbrio da escuridão e da luz e se esforçar para manter o equilíbrio interno. Ou seja, tem muito da história de Perséfone e sua mãe, Deméter, principalmente em relação as estações do ano. É um período um pouco nebuloso, de contato com as trevas. Não poderia ser melhor para entrar em contato com a deusa. Segui então um ritual conduzido pela Blue do canal Aliança Wicca e me permiti entrar em uma densa e assustadora meditação. Isso mesmo, assustadora. Para os que cultuam Hécate, meditação com Perséfone é muito parecido. É frio, é estranho, uma sensação muito diferente do culto a Apolo ou Afrodite. 
    Pouco tempo depois, fiz uma outra meditação com a deusa, que viria a ser a minha primeira visualização criativa totalmente original. Deixei meu próprio subconsciente me guiar, assim como a Deusa que me levava em sua descida para o Hades. Peguei a ideia de um post da Rosea Bellator do Oficina das Bruxas que orientava colocar um véu negro por cima do rosto. Na minha frente, uma vela vermelha com uma chama bem viva. Fiz isso fora de casa, na minha varanda que dá de frente para um aglomerado de pinheiros e carvalhos gigantes. Como vocês podem imaginar, foi um pouquinho aterrorizante sim. Começou a ventar e eu sentia tudo de uma maneira muito a flor da pele, mas ao mesmo tempo mágica e  sempre domando as rédeas da visualização. Vocês podem estar um receosos agora, mas juro que o trabalho com Prosérpina é uma experiência inesquecível! 💜
    Eu ainda não fiz outra celebração sabática com a deusa, simplesmente por não achar necessário. Por ser algo focal, como dito anteriormente, meu culto a esta deusa é muito prático. Porém, caso tenha interesse, outros sabás que contém a energia da deusa é Ostara e Beltane, por serem celebrações primaveris e Prosérpina ser a deusa dos frutos e flores.
    
Propriedades de Perséfone

    Quando comecei a cultuar esta deusa, não foi muito simples encontrar como cultuá-la, que oferendas presentear, como ritualizar. Claro que tem informação em profusão, mas depois da primeira "cagada mágica" que tive com ela passei a ser muito mais meticulosa em reunir suas propriedades. Okay, sabe-se que Perséfone é a rainha do submundo, uma guia dos mortos. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi: ossos! Isso mesmo, qualquer ossinho que você tiver. Fui montando meu altar (sem uma imagem para cultuar), sequei algumas flores que ganhei de presente, flores de cores vermelhas e roxas. Para trazer mais a ideia de "ctônica", decorei com duas mini caveiras o seu canto (são caveiras tradicionalmente mexicanas, mas quem não tem cão caça com gato rs).  Trazendo um pouco de Deméter para dentro do altar, fiz um círculo de grãos (linhaça e chia) envolta de uma vela violeta, pois o violeta traz muita intuição, traz meditação, temperança... Coisas que trabalho com Prosérpina. Simples, mas profundo, um pouco mais cuidadosa do que fui com minhas deidades paternas. 
    Caso queira cultuar a deusa, as meditações e as introspecções são essenciais. Sabe aquele dia que, por um acaso, você vai ficar sozinha por um bom tempo em casa? Use essas horinhas para se conectar com ela. Faça no escuro ou em seu jardim, pois são nestas ambientações que se pode sentir a força da deusa (principalmente se for na primavera, ai recomendo fortemente que vá para o seu jardim mesmo!). Deixe no pé de sua imagem ou estátua frutas da estação, principalmente o romã, a fruta que representa seu mito. 


Jogando com Perséfone 

    Para finalizar, se você entende de oráculos, principalmente tarô, recomendo demais que faça um método de tiragem que me guiou no trabalho com ela. Quem me ensinou este método foi meu professor de tarô, Bruno Cassaro (conhecido como @bhruxo no Instagram). O nome deste método chama Ponto Cego e foi desenvolvido pelo estudioso alemão Hajo Banzhaf, que teve como referência um esquema usado em Psicologia chamado "O espelho de Johari". É um jogo relativamente simples, mas que irá te revelar muita coisa sobre você, por isso, se tem dificuldade em ler para si próprio, consulte seu/sua tarólogo(a). Deixarei o esquema logo abaixo:

Posição 1 - Identidade Pessoal;
Posição 2 - O Grande Desconhecido;
Posição 3 - A Sombra;
Posição 4O Ponto Cego;


Imagens retiradas do blog "Leiturinha Diária"


    Espero que tenha auxiliado vocês de alguma maneira! Cultuar Perséfone ou tê-la como guia espiritual é sempre uma experiência e tanto. Dificilmente será algo manso e pouco impactante, rs. E se for, tome cuidado, você pode não estar querendo ver coisas que estão bem debaixo do seu nariz... 
*sai voando na vassoura com olhar misterioso*



💟Gratidão!💟
@ambrosyah_















 

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