Sincretismo Religioso: um estudo e outro olhar



ATENÇÃO: O texto a seguir não tem intenção de anular ou menosprezar nenhuma religião. Sua produção foi baseada em dados históricos, retirados de livros e de documentos da internet. 


    Quando estava começando minha jornada na bruxaria, me deparei com inúmeras informações que mais confundiam do que ajudavam. Demorei muito tempo para conseguir discernir o que era religião, religiosidade, sistema mágico, egrégora, escolas iniciáticas, entre outros inúmeros nomes e conceitos que. Entretanto, esse aglomerado de informações só me atraiu mais para o meio esotérico. No começo, vasculhava sebos perto de casa e depois fui me aventurando nos que eu encontrava próximo da minha faculdade. Porém, muitos livros me levavam à mais livros, que não necessariamente tinha a mesma visão do primeiro, o que começou a gerar uma pane dentro de mim.
    De início, eu não me limitei em me inserir na Wicca ou em alguma outra religião, pois como eu mesma falei acima, era muito limitante e eu queria abraçar o mundo e suga-lo para dentro do meu cérebro. Então comecei a ler sobre Alesteir Crowley, o que me levou para o Hermetismo e a Cabala, assuntos que acho particularmente interessante, mas que são muitíssimo extensos. Tinha as ciências ocultas como um professor muito místico ao meu lado, mas não parei por aí, pois afinal de contas, a minha praia era mesmo a bruxaria. Porém, um assunto que até hoje eu estudo e que todos os que estão traçando sua jornada religiosa deveriam estudar, é o sincretismo religioso.
    Primeiramente, gostaria de deixar claro que não sou nenhuma graduada em história ou antropologia, então todas as informações que eu passar a vocês foram produto de pesquisas webgráficas e bibliográficas. Sincretismo religioso é um assunto complexo e não é a minha intenção esgotá-lo neste post, mas sim fazê-los ter uma nova visão sobre religião e história. De maneira sucinta, por definição, sincretismo é a absorção de um sistema de crenças por outro. E não tem muito como fugir do cristianismo quando falamos sobre o tema, pois ele é, conhecidamente, o maior sincretismo histórico de todos os tempos. 
    Fazendo uma breve recapitulação da história de Roma, o cristianismo foi uma religião que nasceu no Império Romano, a partir da tradição judaica que acreditava na chegada de um messias à Terra, que seria responsável por pacificar a humanidade, salvando todos aqueles considerados pecadores. Na época, Roma era politeísta, havendo muita perseguição daqueles que queriam pregar o monoteísmo. Porém, aos poucos, muitos fiéis foram aderindo a ideia e logo ela se espalhou por todo o Império e, posteriormente, por todo Ocidente. Pouco depois, com a chegada de Constatino ao poder, a relação do Império com o cristianismo mudou de uma vez por todas. Constantino converteu-se cristão em 313 e permitiu que os cultos cristãos ocorressem sem ameaça de violência ou perseguição. A religião ganhou novos adeptos em todos os grupos sociais e se expandiu com mais facilidade, acabando por se tornar indispensável para um bom governo do Império Romano, representando uma força para a união imperial. Em pouco tempo os cultos pagãos passaram a ser proibidos e o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano em 380 d.C.

(Altar pagão para Yule)
    Agora, procure pensar como esses devotos pensavam na época: o que fazer para novos cidadãos aderirem à Nova Religião? Oras, tomar ideias das antigas religiões! E foi exatamente o que eles fizeram. O cristianismo, então, absorveu conceitos do paganismo europeu, moldando-os de acordo com os da Igreja Católica na estratégia de facilitar a propagação da religião cristã no continente. Um exemplo disso é o Natal, originalmente uma festa pagã – o Yule – que celebrava o solstício de inverno e o nascimento anual do Deus Sol e que os povos da antiguidade associaram a atual celebração do nascimento de Jesus Cristo. O mesmo aconteceu com o equinócio de Primavera – Ostara – que, dentro do cristianismo, se tornou a Páscoa. Porém, não apenas as festividades foram pinçadas, mas também histórias e características de divindades pagãs, no que hoje chamamos de correspondências. Não é incomum no meio esotérico ver Jesus Cristo ser comparado a Hórus, Apolo, Tamus, Thor, entre outras dezenas de deidades do mundo todo. Inclusive Lúcifer, o anjo caído, teve seu nome retirado da antiga religião romana: Dianus Lucifero é irmão, filho e consorte da Deusa Diana, posteriormente, gerando Aradia. É o Portador da Luz e Senhor do Esplendor, além de ser o Senhor da Estrela Matutina e Vespertina. Com o tempo, os camponeses começaram a aceitar essa religião que falava de Jesus, um homem que havia sido pregado na cruz pelos romanos. Para eles, a história lembrava o deus Odin que havia se pendurado em uma árvore para adquirir a sabedoria das runas, e também, passaram a associar Maria, mãe de Jesus, à Mãe Terra.     

(Altar umbandista com figuras católicas)
    O conteúdo é vasto, polêmico, e se estende a muitas outras religiões, não apenas o cristianismo. Aqui no Brasil, por exemplo, a umbanda é também um ótimo exemplo de sincretismo, pois suas crenças misturam elementos do candomblé, do espiritismo e do catolicismo. Também possui conceitos do kardecismo (espiritismo), como o de “evolução” e “reencarnação”, e Jesus como referência espiritual, sendo possível encontrar sua imagem em lugar destacado nos altares das casas ou nos próprios terreiros. Há inclusive uma relação entre as entidades da umbanda com os santos católicos: Oxalá como Jesus Cristo, Ogum como São Jorge, Oxum como Nossa Senhora da Aparecida, Exú como Santo Antônio, entre outros. Partindo desse ponto, gostaria de citar um trecho de Leandro Karnal onde ele explana sobre os termos “seita” e “sincretismo”:

Sincretismo pressupõe que existe uma religião pura. O cristianismo é uma combinação mais ou menos equilibrada de teologia judaica, concepção platônica helenista e organização romana. A soma de tudo isso deu o puro catolicismo [...] Da mesma maneira que não existe raça pura, não existe religião original. O judaísmo mesmo é a soma de dezenas de religiões, inclusive mesopotâmicas [...] Então eu também não posso dizer que Iemanjá seja uma figura sincrética que aproxima um culto Yorubá da Nigéria da Imaculada Conceição, dogma católico do século XIX, por que a própria “original” Yorubá já é uma mistura de outros grupos. Todas as religiões estão em permanente movimento. [...] Uma missa rezada em Roma é tão sincrética quanto um terreiro onde se sacrifica um bode.”
        Embora o termo esclareça muita coisa que nos deixa confuso no início da trajetória espiritual, a ideia do sincretismo se mostra imprecisa e pouco inclusiva, pois, como o próprio historiador comenta, ele parte do pressuposto de que existe somente uma religião pura – e qual seria ela não é mesmo? Se sincretismo é a palavra adequada, é uma questão de opinião, mas como boa pagã, gosto da visão de que há uma Deusa e um Deus, sendo essas figuras o que o seu coração achar que deve ser, seja Virgem Maria, Afrodite, Isis, Jesus, Apolo, Hórus, e por aí vai. Imagino eu que este olhar mais suave e abrangente sane com mais facilidade dúvidas existenciais, além de diminuir a intolerância religiosa que, infelizmente, ainda é muito comum mesmo nos dias de hoje. Estamos aqui para propagar conhecimento e abraçar com empatia. 



 💖  Gratidão! 💖
@ambrosyah_

 

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